“Este volume de estudos de Eduardo Lourenço abrange textos cronologicamente distantes na primeira publicação mas, ao contrário de informes colectâneas, é organizado de maneira unificante desde a poesia de Orpheu até à dos nossos dias. Através do livro podemos seguir verdadeiramente a história da poesia portuguesa nos seus pontos culminantes dos últimos sessenta anos. Mais, porém, do que entrar num campo de longos debates desse diálogo singular do autor com as obras literárias, em termos de veracidade crítico-interpretativa, importa aqui algo de mais significativo: compreender o próprio funcionamento crítico-interpretativo peculiar dessa escrita. […]

Não é, porém, apenas este estado de suspeita e aferição permanente na crítica de Eduardo Lourenço, esta vertigem de escrever à borda do precipício, que lhe confere uma penetração sibilina de minúcia e certeza, distinguindo-a singularmente no pensamento português. Basicamente é a própria posição de partida, o que poderíamos chamar a conivência poética da sua crítica. Mais exactamente do que escrever de, Eduardo Lourenço escreve com o poeta, lado a lado. O diálogo estabelece-se originalmente pela aliança da génese da poesia com a hermenêutica da crítica, da estruturação dos elementos poéticos com a exegese dos elementos críticos”
Duarte Faria “Da Crítica como Poética em Eduardo Lourenço” in Arquivos do Centro Cultural Português, Vol. X, 1976 Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 665-671.