A Noite Intacta. (I)recuperável Antero, 2000 Vila do Conde, Centro de Estudos Anterianos
RDP - Professor, pedia-lhe só um breve comentário a propósito deste seu livro que hoje vai lançar no encerramento deste Colóquio Internacional sobre Eça de Queiroz e a Geração de 70: A Noite Intacta – (I) recuperável Antero.
EL - Antero foi sempre, efectivamente, e herdei isso já não só de toda essa tradição de que falei, mas também do facto de um dos meus grandes mestres, o Professor Joaquim de Carvalho, ser talvez o primeiro que reflectiu com mais profundidade sobre o itinerário espiritual de Antero de Quental.
Quanto ao título – A Noite Intacta – é mais uma vez uma homenagem que já vem também num meu recente livro: Portugal como destino. É uma espécie de visita rápida àquilo que tem sido a nossa História sobretudo em termos de imaginário. Antero do Quental é uma figura um pouco à parte. É aquele que, como eu disse, é uma espécie de buraco negro na nossa cultura. Um buraco negro que é um excesso de luz, provavelmente quando as pessoas se matam um pouco por essa ofuscação. Naturalmente foi o que ele fez. Tendo sido o actor de um desafio que era incomportável para qualquer pessoa e que estava fatalmente predisposto para não poder resolver essa contradição profunda entre ele e o que era a situação cultural do país e o seu ambiente, sem sentir que só como vítima podia resgatar as imensas contradições em que ele próprio se colocou desejando para este país, naquela altura e naquele momento, um futuro que o país não podia comportar.

(Excerto de uma breve entrevista concedida a Vítor Nobre transmitida pelo programa Edição Especial de Francisco Sena Santos - Antena I e publicada in Estudos Anterianos 6, Centro de Estudos Anterianos de Vila do Conde, Novembro 2000, pp. 21-23).