Alberto de Lacerda
(Ilha de Moçambique, 1928 - Londres, 2007)
7 Bentinck St.
London, W.1.
5.12.52


Querido amigo –
(sim, é com verdadeira amizade que lhe venho escrever) – acabei de ler agora mesmo o seu artigo sobre Fernando Pessoa no Janeiro. E comoveu-me, e por isso lhe venho dar um grande, grande abraço – porque é um belíssimo preito de amor e justiça a esse génio que sempre é maior do que eles pensam.
Eu não lhe tenho escrito – nem sei pedir-lhe desculpa por isso. Apenas queria que acreditasse que várias vezes penso em si, e com muita afeição.
Olhe, escreva-me, se puder. Um abraço cheio de saudades do Alberto
Nascido em Moçambique, em 1928, Alberto de Lacerda chegou a Lisboa em 1946 «com o projeto muito vago de estudar francês e inglês» (Luís Amorim de Sousa). Após cinco anos em Portugal, e tendo-se entretanto relacionado com o meio literário e publicado nas revistas mais destacadas da época, parte para Londres onde trabalha como locutor da BBC. Integra-se no mundo cultural londrino e publica o seu primeiro livro 77 poems (George Allen and Unwin, 1955), numa edição bilingue que o sinólogo Arthur Waley prefaciou e co-traduziu com o autor. Colabora no The Times Literary Supplement, bem como em outras revistas literárias The Listener, The Spectator, Encounter, Botteghe Oscure, Cahiers de Saisons. Passa pelo Brasil e é convidado a ensinar nos Estados Unidos da América. Sem nunca abandonar a capital britânica, Alberto de Lacerda passa a leccionar regularmente nos Estados Unidos, principalmente na Universidade de Boston, onde ensina até atingir a reforma. Em 1987, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian organiza uma exposição intitulada Alberto de Lacerda: O Mundo de um Poeta, que reúne parte da colecção de arte do poeta. Da exposição resultou um volume onde foi publicado o texto de Eduardo Lourenço «Alberto de Lacerda: Uma poética do exílio redimido». A 12 de Outubro de 2017, a Biblioteca Nacional de Portugal inaugurou a exposição Oh, Vida, sê bela!, comissariada por Luís Amorim de Sousa, igualmente responsável, em parceria com Mary Porter de Sousa, pela selecção dos materiais expostos.