Gérard Castello-Lopes
(Vichy, 1925-Paris, 2011)
Gérard Maria José Lévêque de Castello Lopes, filho de José e de Marie, nasceu, por engano ou por acaso, na cidade francesa de Vichy (de má memória) em 6 de Agosto de 1925. Vinte anos mais tarde, os Estados Unidos da América, numa involuntária mas tonitruante homenagem a esta efeméride, despejaram sobre Hiroshima, a primeira bomba atómica.

Assim começa o irónico curriculum vitae que o fotógrafo português Gérard Castello-Lopes enviou, acompanhado de um postal de natal, a Eduardo Lourenço, a 22 de Dezembro de 1997. Gérard Castello-Lopes nasceu em França, mas viveu em Lisboa, Cascais e Paris. Licenciado em Economia, pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, dedicou a sua vida ao cinema e à fotografia. Gerente da distribuidora Castello-Lopes, fundada pelo seu pai, foi também assistente de realização de Artur Ramos e de Fernando Lopes. Escreveu para os jornais A Tarde e Semanário e foi crítico de cinema na revista O Tempo e o Modo. Foi um dos fundadores do Centro Português de Cinema e presidente do júri do Instituto Português de Cinema. Em 1993, integrou o conselho consultivo da Culturgest, o que lhe suscitou um comentário mordaz: «Miseráveis gloríolas, insusceptíveis de lhe conferir uma qualquer imortalidade se as compararmos ao desabrochar da verdadeira Fama que lhe trouxe a nomeação, em 1993, de membro do CONSELHO CONSULTIVO DA CULTURGEST!!!».
Castello-Lopes começou a fotografar em 1955, desenvolvendo o seu trabalho de forma autodidacta, muito influenciado pelos ensinamentos de Henri Cartier-Bresson. Realizou dezenas de exposições individuais, antes e depois do 25 de Abril de 1974, e participou em diversas exposições colectivas, tanto em Portugal como no estrangeiro. Em 1982, a sua obra foi redescoberta graças a uma exposição retrospectiva na galeria Ether.
Os votos de festas felizes de 1997, endereçados a Eduardo Lourenço, terminam com uma passagem manuscrita onde podemos ler: «Cá continuo no Labirinto da Saudade vituperando um Destino que me impede de o ver e de ouvir. Vou lendo, c’est mieux que rien. Um grande abraço do amigo e admirador, Gérard».