Maria de Lourdes Belchior
(Lisboa, 1923-Lisboa, 1998)
Lisboa 31 de Agosto de 1995

Caro Eduardo Lourenço,

Recém-chegada do Brasil, encontro amáveis convites das câmaras da Guarda e de Almeida para estar presente na justa homenagem que lhe vai ser prestada.
Não tive ocasião até hoje – creio – de lhe dizer quanto admiro profundamente o seu honesto e lúcido trabalho intelectual.
Será redundante quase declarar que é seguramente o único intelectual português, de nível europeu que, infelizmente só agora (e sobretudo após a tradução de obras suas para francês) é, como tal, reconhecido. É também talvez o único português com quem F. Pessoa admitiria dialogar por parte dele se espelhar em si. E mais não digo – é que receio sempre que possam assemelhar-se a flores de retórica as palavras que procuram transmitir sentimentos verdadeiros. E os meus são de profunda e sincera admiração pelo intelectual que o Eduardo Lourenço é e de gratidão pela obra de quem tenta que Portugal saia daquela apagada e vil tristeza, a que o Poeta alude.
Obrigada. Cordialmente que quer dizer coraçãomente e um obrigada também à Annie que partilha discreta mas eficazmente no labor do Eduardo

Com a profunda admiração e a viva amizade da
Maria de Lourdes Belchior
Maria de Lourdes Belchior nasceu em Lisboa a 9 de Julho de 1923. Licenciou-se em Literatura Portuguesa e Espanhola (1946) e doutorou-se em Cultura e Literatura Hispânica (1953) na Universidade de Lisboa.
Foi leitora no Instituto Católico de Paris (1950-1952), professora catedrática na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi professora associada na Sorbonne (1976 e 1977) e professora associada na Universidade de Santa Bárbara, Califórnia (1978 e 1979).
Maria de Lourdes Belchior foi conselheira cultural na Embaixada de Portugal no Rio de Janeiro (1963-1966), conselheira para a Direcção do Instituto de Alta Cultura (1966-1970) e presidente deste Instituto entre 1970 e 1973. Foi membro do conselho fundador da Universidade Nova de Lisboa (1973-1975). Foi, igualmente, secretária de Estado da Cultura, entre Maio e Outubro de 1974, e directora do Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris (1989-1998).
Foi membro de agremiações culturais – como a Academia das Ciências de Lisboa (1975) e a Academia Latina (1970) –, agraciada com vários prémios e distinguida com os títulos de comendador da Ordem do Rio Branco (Brasil, 1967), da Ordem de Santiago da Espada (Portugal, 1971), Oficial da Legião de Honra (França, 1975), com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (Portugal, 1998) e com o título de doutor honoris causa pela Universidade do Porto (1996) e pela Universidade Nova de Lisboa (1998).
Publicou obras como Da poesia de Frei Agostinho da Cruz – Tentativa de Análise Estilística (dissertação de licenciatura, 1946), Bibliografia de António Fonseca Soares - Frei António das Chagas (1950), Frei António das Chagas – Um Homem e um Estilo do Século XVII (tese de doutoramento, 1953), Itinerário Poético de Rodrigues Lobo (1959) e Os Homens e os Livros – Séculos XVI e XVIII (1971).
O Acervo de Eduardo Lourenço possui de 20 cartas de Maria de Lourdes Belchior, escritas entre 1955 e 1996.