O Espelho Imaginário Pintura, Anti-Pintura, Não-Pintura, 1981 Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda
Grenoble, 18 Outubro 60

Meu Caro João
Prometido é devido. Aí vão essas folhas com destino à Gazeta se lá tiverem um lugar ao sol. Não é exactamente o que eu desejaria para primeira colaboração mas não quero deixar passar mais tempo sem dar sinal de vida. Uma recente revisitação do Prado e o acaso do Centenário puseram-me a “questão”. Velazquez. Infelizmente como verás, eu interrompo-a limitando-me a deixá-la em suspenso quando a coisa começava a ser deveras interessante. Mas a questão do realismo em pintura (e no resto) ficará para outra vez. Ela é dessas que, de qualquer modo, ficam sempre para outra vez.
Desculpa mandar tudo escrito à mão mas a mecânica não é o meu forte

Abraço do EL



St.Issmer, 15 de Novembro 60

Meu Caro Cochofel
[…] Antes do mais agradeço o bom acolhimento do artigo. No que diz respeito às reproduções deixo isso a teu cuidado. Fora o auto-retrato (ou o quadro todo seria melhor) qualquer reprodução da segunda fase de Velazquez, ou da última, serve os meus propósitos. Mas não deve ser fácil “dar” Velazquez, haja em vista as reproduções do último “Colóquio” que ontem me chegou às mãos. Tu podes escolher entre algum pormenor (o “gesto” de Justino de Nassau entregando as chaves, a parte esquerda das “Tecedeiras”) e a reprodução da Infanta Margarida Teresa (em azul) do Museu de Viena, com algum bobo à mistura. Tudo depende das várias possibilidades e de espaço […]

19 Nov.60

P.S.
Entretanto, para minha confusão, recebi a “Gazeta”. Imaginava que sairia lá para o fim do mês. Mas não se perdeu nada. Como vês as minhas indicações coincidem curiosamente com o que foi feito que é aliás ainda melhor. A ideia de Picasso é excelentíssima e não ousei sugeri-la. Mil vezes obrigado por tudo. Para a próxima vez tentarei ser mais pontual.

Abraço do EL