Tempo da Música, Música do Tempo, 2012 Lisboa, Gradiva
Eduardo Lourenço foi distinguido com o Prémio Jacinto do Prado Coelho em 1986 pelo seu livro Fernando, Rei da Nossa Baviera, e recebe-o agora pela segunda vez, a pretexto da publicação de Tempo da Música, Música do Tempo. Situação inédita na história de um prémio instituído pela Associação Portuguesa de Críticos Literários há cerca de trinta anos, este encore fala por si: foi uma aventura singular, essa aventura no tempo que o próprio Eduardo Lourenço identifica com a realidade humana, e no seu caso plasmada numa vasta, riquíssima e multifacetada obra ensaística, que o júri deste ano quis mais uma vez homenagear […] O Júri do Prémio Jacinto do Prado Coelho deste ano, constituído por Maria João Reynaud, Teresa Martins Marques e por mim própria, salientou a diferença do volume Tempo da Música, Música do Tempo em relação às obras do autor anteriormente publicadas, não só por se tratar de um livro sobre música, mas também pela sua composição fragmentária, em forma de apontamentos soltos, por vezes inacabados, ou de breves notas de feição diarística […] A beleza de Tempo da Música, Música do Tempo começa no próprio título, cuja disposição quiástica aponta para múltiplas direcções de leitura, pondo em jogo e cruzando sentidos que se prendem com a consciência histórico-musical de quem escreve, com a sua história pessoal de ouvinte (a sua aprendizagem, as suas intuições, as suas descobertas, os seus gostos), com a solicitação da música enquanto estímulo e objecto da escrita, e, sobretudo, com a música interior que acompanha e modula a vida. Sem falar, claro está, no sentido mais imediato do tempo (ou dos tempos) que compõem a própria matéria da música e a sua tessitura discursiva, sendo as reflexões sobre a fuga e sobre o Leitmotiv, por exemplo, das mais impressivas que a obra nos deixa […] Quando o felicitámos ao telefone por este prémio, Eduardo Lourenço exclamou: “Como surpresa, é uma surpresa”. Mas não. A Maria João Reynaud, a Teresa Martins Marques e eu queremos dizer-lhe que a lucidez da sua escrita é que é uma surpresa, sempre.”
Clara Rocha in Jornal de Letras, Ano XXXIII, nº 1126, pág.33.