João José Cochofel
(Coimbra, 1919-1982)
Lisboa, 6/7/71
Meu caro Eduardo Lourenço:
Tenho estado doente com uma bronco-pneumonia. Daí a razão do meu laconismo, que espero me perdoes.
Há já bastante tempo que te distribui as rubricas APOLÍNEO, ARTIFICIALISMO, AXIOLOGIA, para o Dicionário1. Não tenho insistido contigo, porque houve atrasos e os fascículos só começarão a sair regularmente em Outubro. Mas, nesta altura, preciso absolutamente de saber se podes ou não encarregar-te desses artigos. O mais urgente seria APOLÍNEO (o que se entende por espírito apolíneo em arte, especialmente em literatura, contrapondo-se ao chamado espírito dionisíaco), que terei de ter em meu poder até ao fim de Novembro. ARTIFICIALISMO (o artificialismo de toda a arte, que o próprio termo subentende) poderia ficar para Dezembro ou Janeiro, e AXIOLOGIA (a complicada questão dos valores literários) para Fevereiro. Peço-te que não deixes de me responder, para, no caso de te não interessar alguma destas rubricas, haver tempo de as entregar a outro colaborador.
Um abraço amigo do
João José
Grande Dicionário de Literatura Portuguesa e Teoria Literária (1977).
Poeta, ensaísta, crítico literário e musical, João Cochofel deixou o nome ligado ao movimento neo-realista português. Nasceu em Coimbra e nesta cidade formou-se em Ciências Histórico-Filosóficas. Membro fundador das revistas Altitude (1939) e Vértice (1942), fez parte da direcção da Gazeta Musical e de Todas as Artes. Ensaísta e crítico musical, dirigiu o Grande Dicionário de Literatura Portuguesa e Teoria Literária (1977), cuja publicação ficou incompleta. O seu espólio encontra-se no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da Biblioteca Nacional de Portugal. O Acervo de Eduardo Lourenço possui 15 cartas de João José Cochofel, escritas entre 1968 e 1974.