Mário Cláudio (Porto, 1941)
Senhor Professor,


Começarei por felicitá-lo pelo merecidíssimo prémio que lhe foi atribuído, e que constitui, em verdade, homenagem tributada à Literatura Portuguesa.
Entretanto, frustraram-se-me todas as tentativas de fazer coincidir as periódicas idas a Lisboa com as suas passagens por lá. Daí que venha eu, uma vez ainda, por carta, falar-lhe do que muito mais me agradaria fosse tratado de viva voz.
Pelo Arnaldo Saraiva, há uns meses, recebi a grata notícia da sua disponibilidade para prefaciar a edição francesa dos meus livros, a serem publicados em França, pela «Différence». A tradução, a cargo do Pierre Léglise-Costa e Patrick Quillier, acha-se já em bom curso, prevendo-se o lançamento para finais do presente ano.
Aqui estou a pedir-lhe, pois, a confirmação da sua generosidade, na expectativa, ainda, de um encontro para breve. Recebi, de sua parte, testemunhos de apreço que não esquecerei, para além de uma inteligência de análise do meu trabalho que ninguém igualou, até à data. Aguardando as suas notícias, queira aceitar, Senhor Professor, o abraço de muita, constante, afectuosa dedicação do sempre seu
Mário Cláudio

Porto, 16.4.87

P.S. Atenção ao novo endereço.
Mário Cláudio, pseudónimo de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, é formado em Direito pela Universidade de Coimbra, onde se diplomou também como bibliotecário-arquivista. Estreou-se como poeta com o volume Ciclo de Cypris (1969), mas é como ficcionista que mais se tem destacado. A obra de Mário Cláudio apresenta uma faceta de investigador e de bibliófilo que inscreve eruditamente os seus livros na herança cultural e literária portuguesa e europeia. A sua escrita investiga uma época através de um nome ou de um local. Mário Cláudio recebeu, em 1985, o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores por Amadeo (1984) (inspirado na vida do pintor Amadeo de Souza Cardoso), e o primeiro romance de um conjunto posteriormente intitulado Trilogia da Mão (1993). Em Dezembro de 2004, foi distinguido com o Prémio Pessoa. Para além das obras já mencionadas, são também da sua autoria Guilhermina (1986), A Quinta das Virtudes, (1990), Tocata para Dois Clarins (1992), O Pórtico da Glória (1997), Ursamaior (2000), Orion (2003) e Triunfo do Amor Português (2004). Em 2015 publicou o volume autobiográfico Astronomia.