Lídia Jorge (Boliqueime, 1946)
Querido Eduardo Lourenço,
Socorreu-se de Goya florido para me desejar bom Natal. Veja só o contraste! – Socorro-me dum pequeno texto com pássaros para lhe mandar um abraço que tenho guardado para si. Como entretanto não houve outro colóquio que nos fizesse encontrar, venho desejar-lhe um ano de 94 muito feliz. Que durante ele escreva para nós os textos que dificilmente merecemos. Não conheço ninguém que diga de forma tão fulgurante o que eu sinto apenas como um pressentimento. Às vezes enerva-me. Acho que ninguém mais merece os prémios que o E.L. dá aos outros. E não é por amizade, mas por justiça. Queria que 94 fosse um ano cheio de carinho por si, pela sua obra e pelo seu discurso. E que toda a sua família esteja bem. Reparta com a Annie o abraço muito afectuoso da sua amiga
Lídia
Lisboa, 20/Dez./93
Licenciada em Filologia Românica, Lídia Jorge foi professora do ensino secundário em Lisboa e em África. Em Moçambique, viveu a Guerra Colonial que mais tarde descreveria no romance A Costa dos Murmúrios, através da perspectiva da mulher de um oficial do exército português.
Em 1980, publicou o romance O Dia dos Prodígios, que lhe valeu o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa. O romance de estreia teve grande impacto junto do público e da crítica e Lídia Jorge foi saudada como uma das mais importantes revelações das letras e uma renovadora do imaginário romanesco português.
Inicialmente próxima do realismo mágico, Lídia Jorge adoptou progressivamente um tom mais realista, nomeadamente em O Jardim sem Limites, onde Lisboa, a metrópole europeia onde se cruzam e perdem identidades, se substitui ao Portugal arcaico e rural. A par da actividade literária, Lídia Jorge foi professora convidada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e desempenhou funções na Alta Autoridade para a Comunicação Social.
Os seus livros têm-lhe merecido variadíssimos prémios e estão traduzidos para diversas línguas. O texto «A Prova dos Pássaros» foi publicado no livro Marido e Outros Contos (Lisboa: Dom Quixote, 1997). Lídia Jorge participou no documentário O Labirinto da Saudade (2018), realizado por Miguel Gonçalves Mendes e dedicado à obra de Eduardo Lourenço.