Fernando Echevarría
(Cabezón de la Sal, Espanha, 1929)
Nascido na Cantábria, filho de pai português e de mãe espanhola, o poeta Fernando Echevarría cursou Humanidades em Portugal e Filosofia e Teologia em Espanha. Em 1961, exilou-se em Paris. Enquanto militante da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN) instalou-se na Argélia em 1963. Em 1966 regressa a Paris. Para além de obras publicadas e da participação em antologias, colaborou em várias revistas literárias portuguesas como Graal, Eros, Colóquio/Letras e A Phala.
Escritas entre 1962 e 1975, em Paris e Argel, as 14 cartas de Fernando Echevarría pertencentes ao Acervo de Eduardo Lourenço não se esgotam como fonte da história literária. Afinal, a carta de 11 de Março de 1971 faz-se acompanhar de um conjunto dactiloscrito de oito poemas intitulado Ritmo Real (1971), que, tal como anunciado pelo autor, conheceu uma edição de 85 exemplares assinados. Publicada em França, ilustrada com dez gravuras originais da autoria de Flor Campino (mulher de Fernando Echevarría), a obra não se encontra disponível, por exemplo, na Biblioteca Nacional.
Por outro lado, as cartas endereçadas de Argel não deixam de ser um testemunho privilegiado das tensões que atravessaram a Frente Patriótica de Libertação Nacional (movimento unitário oposicionista composto por diferentes facções e partidos), principalmente após o desaparecimento do general Humberto Delgado nos arredores de Olivença, a 13 de Fevereiro de 1965.
98, rue d’Aboukir
Paris II
11 Março 71

Meu caro Eduardo Lourenço,

Dissera-lhe, no último dia da sua estadia aqui, que lhe ia mandar alguns poemas. Aí vão, não aqueles em que pensava, mas uma série que, entretanto, acabei e gostava que visse. Serão publicados, penso, lá para o Natal. Vou fazer uma edição eu próprio – muito poucos exemplares – com gravuras da minha mulher. Depois sairão – não sei quando – a fazer parte de um livro que não acabei ainda.
Diga-me o que pensa deles. Destes peço-lhe para não mandar nenhum para o seu jornal. Quero que saiam assim em bloco.
Passe mais vezes por cá. E com mais tempo. Ficou-me a sensação de quase nem termos começado a conversar.
Os portugueses de Paris, os mais velhos, começam a partir para o País – Andrade e Silva etc. etc. Eu ainda ficarei. Muitos anos, penso.
Um grande abraço. Espero que até breve.
Fernando