A morte do poeta José Régio, a 22 de Dezembro de 1969, leva Luís Amaro a solicitar a Eduardo Lourenço um ensaio, em jeito de balanço, acerca da obra do autor de
Poemas de Deus e do Diabo. O texto, intitulado «A ausência-Régio», acabará publicado no suplemento
Artes e Letras do jornal
Diário de Notícias e aclamado por Luís Amaro como uma «página de extraordinária compreensão […] Do mais belo, do mais fino entendimento da obra regiana». A carta de 15 de Janeiro de 1970, aqui publicada, é ilustrativa da proverbial discrição de Luís Amaro e da amizade que dedicava àqueles que admirava.
Colaborador assíduo da página literária do
Diário de Notícias, dirigida por Natércia Freire, poeta de «alto merecimento», a quem, segundo o próprio, ficou «devendo atenções inesquecíveis», Amaro defende a publicação do ensaio de Eduardo Lourenço no jornal, face a eventuais escrúpulos ideológicos.
O sentido de justiça de Luís Amaro leva-o a contrapor ao «declarado ‘direitismo’» de Natércia Freire
1, o facto de aí ter publicado nomes tão diversos quanto Vergílio Ferreira, Agostinho da Silva, Urbano Tavares Rodrigues, David Mourão-Ferreira, João Gaspar Simões, Domingos Monteiro, José Régio, Sophia de Mello Breyner, António Ramos Rosa, Jorge de Sena e Natália Correia.
As 129 cartas de Luís Amaro, escritas entre 1969 e 2013, são um dos núcleos mais consistentes do Acervo de Eduardo Lourenço e reflectem a actividade profissional de Luís Amaro na revista Colóquio/Letras, onde foi secretário da redacção (1971-1986), director-adjunto (1986-1989) e consultor editorial (1989-1996).
1 A asserção baseia-se, em grande medida, na amizade que unia Natércia Freire a Augusto de Castro (1883-1971), director do oficioso Diário de Notícias entre 1947 e 1971, e que convidara a poeta para dirigir o suplemento cultural do jornal.