Alberto Seixas Santos
(Lisboa, 1936 - Lisboa, 2016)
Lisboa, 11 Maio 81


Caro Eduardo

Aqui seguem as fotografias do Verão passado. Se nem sempre são famosas, o mínimo que se pode dizer é que a culpa não é dos modelos! Cineastas a fazer fotografias é assim. De qualquer modo é uma recordação razoável do seu tempo de sofrimento às mãos da canalha cinematográfica. Como ainda não revelamos o material feito agora não posso dizer-lhe ainda como estão as coisas. Mas não vamos recomeçar, I promise.
A acabar: parabéns pela derrota do Giscard que acabo de saber neste momento. Não dou parabéns pela vitória do Mitterand porque um Soares mais culto não chega para consolar ninguém. Para si e para a sua situação na Universidade é apesar de tudo um progresso, suponho. Esperemos para ver as repercussões que o caso pode ter entre nós.

Um grande abraço do Alberto e da Paola
Aqui seguem as fotografias do Verão passado… Assim começa a carta do cineasta Alberto Seixas Santos a Eduardo Lourenço (Lisboa, 11 de Maio de 1981). No Verão de 1980, em França e em Portugal, Alberto Seixas Santos filmou Gestos e Fragmentos: Ensaio Sobre os Militares e o Poder. O filme contou com a participação de Eduardo Lourenço – autor de Os Militares e o Poder (Lisboa: Arcádia, 1975) e O Fascismo Nunca Existiu (Lisboa: Publicações D. Quixote, 1976) – mas também de Otelo Saraiva de Carvalho e do actor, argumentista e realizador norte-americano Robert Kramer (1939-1999). Eduardo Lourenço, Otelo Saraiva de Carvalho e Robert Kramer são, juntamente com Nuno Júdice e Alberto Seixas Santos, autores dos textos. Descrito como «um ensaio sobre o movimento revolucionário militar de 25 de Abril de 1974, baseado na retrospectiva pessoal dos acontecimentos de Otelo Saraiva de Carvalho», Gestos e Fragmentos aborda o papel dos militares na revolução portuguesa à luz do golpe de 25 de Novembro de 1975.