José Augusto Seabra
(São João da Pesqueira, 1937-Paris, 2004)
À Annie, ao Eduardo Lourenço e ao Gil, neste Natal que não é de despedida mas de esperança já no retorno, como em todos os exílios…
Norma e José Augusto Seabra
A E.L.
«Conheci a beleza que não morre
E fiquei triste»
(Antero de Quental)
Triste é só quem conhece.
Quem se despe na margem
do desejo e se oferece
ao vazio da imagem
na imagem: à beleza
penteada ao espelho.
Quem vê o outro lado
de ser e assim a olhá-lo
exilado se esquece
da morte que não há.
José Augusto Seabra
José Augusto Seabra, poeta, ensaísta, professor, diplomata e político português, frequentou as universidades de Coimbra e Lisboa. Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1961, doutorou-se em Letras na École des Hautes Études, em Paris. Preso pela primeira vez aos 17 anos, exila-se em França a partir de 1961, só regressando a Portugal após a Revolução de 25 de Abril. Até 1974, foi professor nas universidades de Paris, Nanterre e Vincennes, passando também pela École Normale Supérieure. Já em Portugal, ingressa como docente na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. De 1974 a 1985 foi igualmente deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República, pelo Partido Social Democrata, tendo ocupado o cargo de ministro da Educação no IX Governo Constitucional, o chamado «Bloco Central», entre 1983 e 1985. A partir de 1985 foi Representante Permanente de Portugal junto da UNESCO e, depois disso, embaixador de Portugal em Nova Delhi, Bucareste e Buenos Aires. Foi fundador do Centro de Estudos Pessoanos e colaborador da revista Persona. Dirigiu a revista Nova Renascença (1980) e colaborou em várias outras publicações. Iniciou a sua obra poética com a publicação de A Vida Toda (1961). Enquanto ensaísta destacam-se, entre outros temas, os estudos pessoanos, nomeadamente Fernando Pessoa ou o Poetodrama (1974).
A missiva em anexo, datável de Dezembro de 1992 (e acompanhada por um poema), é uma das 64 cartas enviadas por José Augusto Seabra a Eduardo Lourenço, entre 1963 e 2004.