Vasco Vieira de Almeida
(Lisboa, 1932)
Meu caro Dr. Eduardo Lourenço

Acabei neste instante de ler o seu artigo de hoje na Visão, «Da América e da Europa». E tive a sensação extraordinária de, pela primeira vez, ver escrito – de forma admirável – ponto por ponto, o que também penso sobre a matéria e que não seria capaz de traduzir da mesma forma.
Num mundo em que nos últimos cinco anos temos vindo a assistir às mais profundas alterações de factores geoestratégicos, económicos e culturais, a ilusão imperial dos Estados Unidos em breve se verá não ser mais do que isso – uma ilusão. Todos os sinais estão aí. Mas a esta é preciso que a Europa não acrescente a sua própria ilusão: a de que o seu papel se construirá através da criação de um «centro» político cada vez mais incapaz de representar disparidades óbvias e não pela consciência da sua identidade como motor de paz e de ligação entre mundivisões diferentes, na procura de novos sistemas de equilíbrio, assente, como diz, no cumprimento de deveres éticos imperativos.
Se um dia lhe apetecer e tiver paciência para conversarmos, gostaria imenso de o encontrar. Parto para férias, mas permitir-me-ei contactá-lo depois disso.
Um abraço do
Vasco Vieira de Almeida
Vasco Vieira de Almeida é licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Durante o Estado Novo, apoiou a candidatura de Arlindo Vicente, candidato próximo do Partido Comunista Português, à Presidência da República. Arlindo Vicente viria a desistir em favor de Humberto Delgado. As actividades oposicionistas, onde se contam o auxílio dado a dirigentes do PCP fugidos de Caxias, levaram-no à prisão do Aljube. Conciliou a advocacia com uma carreira na banca, tendo sido director-geral do Banco Português do Atlântico (1970-1972) e presidente do Conselho de Administração do Crédito Predial Português (1972-1974). Após o 25 de Abril de 1974 foi nomeado delegado da Junta de Salvação Nacional junto da banca e, com a constituição do I Governo Provisório, nomeado ministro da Coordenação Económica. Em 1975 foi ministro da Economia do governo de transição de Angola e, posteriormente, embaixador itinerante do Governo de Portugal. Em 1976 abandona a política e dedica-se exclusivamente à advocacia. O seu escritório daria origem à sociedade de advogados Vieira de Almeida & Associados. Em 2016, a Fundação Vasco Vieira de Almeida foi instituída tendo como «fim principal a promoção da educação para a cidadania e a afirmação do papel essencial da educação e do conhecimento na promoção dos direitos humanos e do Estado de Direito».