Joaquim Paço de Arcos
(Lisboa, 1908-Lisboa, 1979)
Sua casa, 19-XI-75
Meu caro Eduardo Lourenço,
Depois do nosso rápido encontro na Fundação Gulbenkian, enviei-lhe para aí dois livros meus: o 2.º volume de “Pedras à Beira da Estrada” 1 e a conferência “Valery Larband e Portugal” 2. Gostaria de saber se eles lhe chegaram às mãos.
Como prova da muita conta em que o tenho envio-lhe hoje um volume de que disponho de poucos exemplares editado pela Aguilar do Rio de Janeiro 3. É ele valioso, não pelos seis romances meus que contém, mas pelos estudos críticos e outro material que inclui. Envio-lhe também duas peças de teatro minhas, as duas últimas. Apreciaria também que me dissesse se estes volumes lhe chegam às mãos.
Espero que sua Mulher esteja agora passando melhor de saúde. Do coração lhes desejo todas as felicidades.
Seu velho camarada e admirador
Joaquim Paço d’Arcos
1 Joaquim Paço de Arcos, Pedras à Beira da Estrada. Lisboa: Guimarães, 1971.
2 Joaquim Paço de Arcos, Valery Larband e Portugal. Lisboa: Guimarães, 1974.
3 Joaquim Paço de Arcos, Crónica da Vida Lisboeta (Ana Paula, Ansiedade, O Caminho da Culpa, Tons Verdes em Fundo Escuro, Espelho de Três Faces e A Corça Prisioneira). Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora, 1974. O volume tem organização e introdução de António Soares Amora e estudos críticos de Ribeiro Couto, Óscar Lopes, António Álvaro Dória, Óscar Mendes, Cruz Malpique, Hernâni Cidade e Fernando Mendonça.
Joaquim Belford Correia da Silva (Paço de Arcos) nasceu e morreu em Lisboa. Dos escritores portugueses do século XX, foi um dos mais traduzidos, tendo alcançado em vida grande notoriedade como ficcionista. O conjunto de obras que publicou sob o título genérico “Crónica da Vida Lisboeta”, onde se inclui o celebrado romance Ana Paula: Perfil duma Lisboeta (1938), foi considerado por muitos críticos, nomeadamente Óscar Lopes, fundamental para a caracterização da sociedade portuguesa entre 1940 e 1960. Em Memórias duma Nota de Banco (1962), Paço de Arcos recupera com engenho a tradição pícara de D. Francisco Manuel de Melo.
No volume Correspondência e Textos Dispersos 1942-1972, editado pela Dom Quixote em 2008, é reproduzido um artigo de Eduardo Lourenço (“Na morte de Paço d’Arcos – o curioso silêncio”), publicado no Diário de Notícias em 19 de Julho de 1979. Nele se escreve: “Morto há cinco anos, o autor de Ana Paula teria tido à sua disposição as primeiras páginas da mesma imprensa – e, nalguns casos, das mesmas pessoas – que hoje o relegaram com calculada parcimónia para as rubricas de um quase anonimato literário”.