Madalena Azeredo Perdigão
(Figueira da Foz, 1923-Lisboa, 1989)
Lisboa, 3 de Julho 78
Meu caro Eduardo Lourenço,

Recebi o seu postal, mais apreciado por ser gratuito, apenas um pensamento de amizade. Recebemos o seu livro, que nenhum de nós teve ainda tempo de ler, mas cuja leitura sabemos a priori que nos irá deliciar. E além disso, tinha tantas coisas para lhe contar… Será que vem mesmo a Portugal brevemente, como foi anunciado pela Fundação da Casa de Mateus? Seria óptimo! Por minha parte, duas grandes novidades: presido o pequeníssimo Grupo de Trabalho para a Reestruturação do Ensino Artístico (enorme e apaixonante responsabilidade) e vou ser Assessora do Ministro da Educação para os Assuntos Artísticos (se entretanto não houver remodelação ministerial…). Estou cheia de trabalho, mas feliz por pensar que posso voltar a ser útil ao país. Falaremos breve? Devo ser das poucas pessoas do chamado meio cultural que não está desmotivada e de braços caídos!
Meu marido envia-lhe afectuosos cumprimentos, que faço meus. Com a velha amizade da

Maria Madalena
Maria Madalena Bagão da Silva Biscaia de Azeredo Perdigão licenciou-se em Matemática (1944), em Coimbra, e concluiu o Curso Superior de Piano (1948) do Conservatório Nacional, seguindo depois estudos de aperfeiçoamento em Paris. Na Emissora Nacional, foi responsável pelo programa radiofónico A Música e os Seus Sortilégios.
Ingressou na Fundação Calouste Gulbenkian em 1958 e até 1974 dirigiu o seu Serviço de Música, criando os Festivais de Música (1958-1970), a Orquestra (1962), o Coro (1964) e o Ballet Gulbenkian (1965). Entre 1978 e 1984, convidada pelo ministro Sottomayor Cardia, dirigiu o Gabinete Coordenador do Ensino Artístico do Ministério da Educação para definir uma proposta de um Plano Nacional de Educação Artística. Em 1983, organizou o I Festival Internacional de Música de Lisboa. Em 1984, regressou à Gulbenkian, para criar o ACARTE- Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte que dirigiu até 1989, ao mesmo tempo que criou o CAI – Centro Artístico Infantil da Fundação Gulbenkian, tendo concretizado três edições dos Encontros ACARTE – Novo Teatro/Dança da Europa (1987, 1988 e 1989). Foi condecorada com a Ordem do Infante D. Henrique e as insígnias da Ordem do Cavaleiro da Legião Francesa.
Casada com José de Azeredo Perdigão, presidente da Fundação Gulbenkian, Madalena Azeredo Perdigão desenvolveu um diversificado trabalho em prol da cultura portuguesa durante o Estado Novo e o período democrático.