Vicente Jorge Silva
(Funchal, 1945)
Exmo. Senhor
Prof. Dr. Eduardo Lourenço
1130 Av. de Provence
06140 VENCE
FRANÇA

Lisboa, 4 de Março de 1994

Exmo. Senhor/ Meu caro amigo

Os meus melhores cumprimentos.

Comemora-se este ano o 20.º aniversário do 25 de Abril. Ao longo dos últimos vinte anos o país sofreu uma das maiores mudanças da sua história moderna, que ocorreu, aliás, num mundo em vertiginosa transformação.

É um momento propício ao balanço e à reflexão valorativa sobre o que se passou em Portugal nestas duas décadas e, por isso, o PÚBLICO decidiu convidar vinte personalidades representativas dos mais variados sectores e quadrantes da vida nacional, desafiando-as a que escolham o melhor e o pior entre os acontecimentos, situações e fenómenos registados neste período. Pedimos-lhe, assim, que entre 20 desses factos escolha os 10 melhores e os 10 piores, fazendo acompanhar, se quiser, a sua resposta de uma pequena explicação.

Agradecendo antecipadamente a atenção que dispensar a este convite, renovo a expressão dos meus melhores cumprimentos.

Com um abraço de grande amizade do
Vicente Jorge Silva
Director


P.S. Solicitamos o favor de nos fazer chegar a sua resposta, o mais tardar até ao fim do corrente mês de Março. Em caso de indisponibilidade ficaríamos também muito gratos que nos comunicasse esse impedimento, com a possível antecedência.
Jornalista e realizador de cinema, Vicente Jorge Silva nasce no Funchal em 1945. Com 15 anos escreve crítica de cinema nas páginas dos jornais madeirenses. A ligação a um grupo de teatro juvenil, bem como o facto de ter escrito sobre filmes para maiores de 17 anos, torna-o suspeito aos olhos do reitor do liceu do Funchal.
Receando que a PIDE fosse informada, a família decide enviá-lo para o estrangeiro. Passa por Paris e Inglaterra e, quando regressa a Portugal, fica isento do serviço militar devido a problemas de audição.
Em 1966, assume a direcção do jornal Comércio do Funchal, que desempenhou um importante papel na renovação da imprensa regional portuguesa e que ficou conotado com a oposição ao regime salazarista. Em 1974 ingressa no semanário Expresso, onde exerce as funções de chefe de redacção e de director-adjunto, tendo sido responsável pelo lançamento da Revista. Vicente Jorge Silva foi, igualmente, co-fundador e primeiro director do jornal Público, cuja publicação foi iniciada em 1990. Foi colunista do Diário Económico, do Diário de Notícias e do semanário Sol.
Como realizador de cinema foi autor de O Limite e as Horas (1961), O Discurso do Poder (1976), Vicente Fotógrafo (1978), Bicicleta - Ou o Tempo Que a Terra Esqueceu (1979) e Porto Santo (1997). Para a RTP, realizou As Ilhas Desconhecidas (2008), adaptação do livro homónimo de Raúl Brandão.
Foi deputado pelo Partido Socialista, eleito pelo círculo de Lisboa, entre 2002 e 2004.