Carlos Câmara Leme
(Lisboa, 1957-2019)
Lisboa, 19 de Fevereiro de 1986


Senhor Professor,

Só agora tenho alguma disponibilidade para lhe dar conta do andamento do meu trabalho.
A este longo silêncio não foi alheio a época de exames correspondente ao Semestre de Inverno, uma colaboração mais assídua no JL e na Revisão de Provas de alguns títulos da Colecção Textos Filosóficos das Edições 70 para além de um discreto mas sentido empenhamento (sobretudo nas primárias) na Candidatura de Mário Soares. Pelo meio – mas no (epi)centro da minha vida, o nascimento do meu primeiro filho.
Como deve calcular, perante esta situação, estou muito atrasado quer na finalização do ficheiro bibliográfico quer no iniciar de leituras a sério dos seus textos. No entanto, no quadro do Seminário de Licenciatura já apresentei o texto que acompanha esta minha missiva, que, se achar que vale a pena, gostaria que me dissesse como lhe parece que está.

Entretanto, pedia-lhe, se fosse possível, que me confirmasse os seguintes dados:
1. Da sua colaboração em O Comércio do Porto registei a partir da antologia Estrada Larga, 4 artigos
- Nota a uma apologia de Sampaio Bruno
- «Presença» ou a contra-revolução do modernismo
- Duas mansardas poéticas - «Notícias do bloqueio» e «Cadernos do meio-dia»
- Alguns doutrinários e críticos literários depois de Moniz Barreto;
A sua colaboração em O Comércio do Porto limitou-se a estes artigos? Se existem outros podia-me indicar os anos dessa colaboração?
2. Da sua passagem pela Vértice registei 7 títulos entre Fevereiro de 1944 [e] o mesmo mês de 1946. Depois disso – é o que eu quero que o senhor Professor confirme – não emprestou mais a sua voz à revista sediada em Coimbra, não é assim?
3. A terceira questão prende-se com o saber entre que datas é que se podem encontrar textos seus no Diário Popular?

Por último, vinha-lhe pedir uma colaboração para o Jornal de Letras: estou a preparar, a propósito de um encontro de cristãos subordinado ao tema Fé e Cultura no ano 2000 um mini-dossier sobre o referido tema. Pensei que o senhor quisesse escrever algo sobre isto mas com uma visão outra: Cultura e Fé no ano 2000 (o texto seria «confrontado» com um outro mas visto na perspectiva «contrária»: Fé e Cultura no ano 2000. Um texto de 2, 3 4 páginas A4. Posso contar com a sua reflexão sobre o assunto? Escreva-me, por favor, a dizer alguma coisa.

Com os meus melhores cumprimentos
Carlos Câmara Leme
Carlos Câmara Leme nasceu em Lisboa, em 1957. Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa, dedicou-se ao jornalismo a partir de 1985. Trabalhou no JL: Jornal de Letras, Artes e Ideias e no Público, tendo sido um dos fundadores do jornal. Colaborou nas revistas Ler e Colóquio/Letras. A sua passagem pelo Público esteve especialmente ligada às comemorações dos Descobrimentos Portugueses, às comemorações da Geração de 70 e às várias edições do Livro do Desassossego de Fernando Pessoa. Os Passos em Volta dos Tempos de Eduardo Lourenço (Lisboa: Verbo, 2014) tem como base o trabalho de final de curso de Carlos Câmara Leme: «O Tempo na Obra de Eduardo Lourenço: uma aproximação». No prefácio, Eduardo Lourenço afirma: «Ainda hoje me surpreende que um então jovem estudante de Filosofia se tenha lembrado de tomar como tema de trabalho de Final de Curso as não menos juvenis reflexões sobre o Tempo e seu enigma – ou o único enigma que alguém, quase tão jovem como ele, tinha tido o atrevimento ou a inconsciência de abordar. E que, na verdade, nunca temática e frontalmente afrontará» (p. 23).