José Mattoso
(Leiria, 1933)
17.5.96


Caro Prof. Eduardo Lourenço,

Várias vezes disse a mim próprio que tinha de o felicitar pelos vários prémios que recentemente recebeu. Mas a coincidência com a minha nomeação aqui para a Torre e a avalanche de assuntos que tive de tratar, agravada com a polémica sobre os documentos da PIDE, impediram-me de cumprir este dever de amizade e de grande admiração. O seu cartão veio acrescentar mais uma razão para lhe escrever.
Queria, de facto, dizer-lhe da minha grande alegria pela consagração do seu trabalho intelectual que os prémios representam. Habituei-me a lê-lo com muita admiração por tudo quanto escreve e sinto muita satisfação por ver que este sentimento de comunhão intelectual é partilhado por muita gente.
Quanto ao meu trabalho aqui, faço o possível por o realizar com algum bom senso e espírito de serviço. Há algumas dificuldades. Mas espero conseguir alguma coisa de positivo. A simpatia de todos os que me apoiam constitui uma boa ajuda.
Creia-me sempre com toda a consideração e uma grande amizade

José Mattoso
José Mattoso estudou no Liceu Nacional de Leiria, após o que ingressou na vida religiosa. Durante 20 anos foi membro consagrado da Ordem de São Bento. Nesse mesmo período, licenciou-se em História na Universidade Católica de Lovaina e doutorou-se em História Medieval pela mesma universidade. Em 1970 regressou à vida secular, iniciando uma carreira académica. Foi investigador no Centro de Estudos Históricos (Lisboa), integrado no Instituto de Alta Cultura e, posteriormente, foi admitido como professor auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em 1979, tornou-se professor catedrático na recém-criada Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
José Mattoso é autor do influente Identificação de Um País (1985), bem como de A Nobreza Medieval Portuguesa (1981), O Reino dos Mortos na Idade Média Peninsular (1996), Naquele Tempo (2009) e ainda da biografia de D. Afonso Henriques (2006). Dirigiu várias obras colectivas, entre as quais História de Portugal; História da Vida Privada em Portugal e Património de Origem Portuguesa no Mundo. Recebeu o Prémio Pessoa em 1987 e foi distinguido com o Prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes em 2019. Foi director da Torre do Tombo entre 1996 e 1998.